domingo, 9 de março de 2014

MANDALA DA LUA NOVA 2014: Círculo do Feminino Sagrado, início 03/05



Jean Shinoda Bolen diz "... quando um Círculo de mulheres está centrado, ele forma uma roda ou uma mandala invisível". Assim cada mulher é ela mesma e também um aspecto de todas as outras mulheres presentes, o Círculo é um lugar seguro para o auto-estudo, para falar a verdade sobre sentimentos, percepções e experiências - o compartilhar consigo mesma e com as outras em comum-unidade.

O círculo é um convite para experimentar a troca de experiências, a confiança, a sabedoria ancestral feminina, para despertar a energia criativa feminina que nos cura, nos alimenta, nos traz vitalidade e contentamento.

Faremos isso através de vivências com:

Yoga - Meditação - Arteterapia (música, dança, artes plásticas, etc) - exercícios de Constelação Familiar Sistêmica e as frequências da Cura Reconectiva®- tendo como base a força e energia do círculo feminino - num espaço sagrado de conexão com o ser - o Espaço Akasha (www.espacoakasha.com.br).

As práticas nos ajudarão a nutrir os valores femininos e despertar a memória dos valores essenciais para a manutenção de uma vida em conexão com a essência, com o poder interior, com o fluxo do coração.

Iniciamos o Círculo com rituais, canto, meditação – seguidos de uma seqüência de posturas e exercícios respiratórios para purificação do corpo e da mente. A intenção é levar as participantes a vivenciarem um processo de transformação que ativa a intuição feminina e sabedoria interior. Ao final expressamos nossa criatividade – Arteterapia - e compartilhamos nossas experiências.

Datas dos sete Círculos em 2014 (sábados de Lua Nova): 03/05, 31/05, 28/06, 26/07, 30/08, 27/09, 25/10. Inscrições abertas!!

O endereço é rua General Dionísio, 43 – Humaitá, no Espaço Akasha. Qualquer dúvida ou informação entre em contato: 98221-3933 ou espacoakasha@gmail.com

Om Shanti OM.

Basta estar presente. Sentar-se. Sorrir. Abençoar.



Quando a mulher atinge a glória, sua energia é magnética e seu senso de possibilidade contagioso. Todas temos visto mulheres cercadas de glória, plenas de realização e regozijo, conscientes disso, orgulhosas disso, transbordantes de amor. Elas brilham. Conheci este estado de espírito em outras mulheres e por vezes, em mim mesma. Mas esta poderia ser uma afirmação mais sólida, uma conquista mais coletiva. Não precisamos fazer nada para ser gloriosas, somos assim por natureza! Se lêssemos, estudássemos e amássemos; se pensássemos com maior profundidade e percebêssemos com maior profundidade que nossos corpos são instrumentos para dar e receber amor, pois somos a maior bênção do mundo, nada mais precisaria ser dito para mostrar nosso valor. Basta estar presente. Sentar-se. Sorrir. Abençoar.

Quanta necessidade deixa de ser atendida em nossa sociedade apenas porque as mulheres tem sido desvalorizadas e desrespeitadas pelas próprias mulheres. Não podemos esperar que o mundo restabeleça nosso valor, estamos aqui para restabelecer nosso valor no mundo. O mundo exterior pode refletir nosso esplendor, mas não pode criá-lo. Ele não pode nos coroar. Somente Deus tem esse poder e Ele já nos coroou.

A cada dia temos uma tarefa a cumprir: recuperar nosso lugar de honra. Isso requer trabalho e ele não agradará a todas. Seremos chamadas de pretensiosas, seremos acusadas de estar perigosamente negando nossas falhas, nossas neuroses e nossas fraquezas. Mas este é um truque antigo, dizer à mulher que sua glória é seu mal. E, sem dúvida, estamos negando. Negamos à fraqueza o poder de nos deter, seja a fraqueza do mundo ou a fraqueza do nosso passado. Estamos voltadas para coisas melhores, tais como admitir a nossa beleza, enaltecer a nossa coragem de chegar a este ponto e recuperar nosso poder natural de curar e sermos curadas. Não somos pretensiosas, e sim, estamos cansadas. Cansadas de fingir que somos culpadas quando sabemos que somos inocentes, que somos feias quando sabemos que somos belas, e que somos fracas quando sabemos que somos fortes. Durante muito, muito tempo, esquecemos que somos parte da realeza cósmica. Nossas mães esqueceram, e as mães delas também. Lastimamos suas lágrimas, deploramos sua tristeza. Mas agora, finalmente quebramos o ciclo!

Por isso, por todas as mulheres mais velhas e matreiras que estão aprendendo quando chegou a hora certa de dizer o que precisa ser dito e não se calar, Ou a calar-se quando o silêncio for mais eloquente que as palavras; Por todas as sábias em formação, que estão aprendendo a ser gentis quando seria tão fácil ser cruel,e que estão praticando a arte de dizer verdades com compaixão; Por todas as que rejeitam as convenções e preferem chocalhar os ossos, balançar o barco e acalmar tempestades; Por todas aquelas que dizem as antigas orações, que se lembram dos símbolos, das formas, das danças e dos ritos do passado; Por aquelas que abençoam os outros com facilidade e frequência e que não tem medo, ou se tem, agem com eficácia de qualquer modo; Por elas, celebramos e pedimos que vivam muito, com força e saúde, e com um imenso espírito aberto aos ventos!

Por elas, pedimos que continuem sempre a nos ensinar a amar este mundo e todos os seres que nele estão, das formas que mais importam para a alma!

Por elas, peçamos em preces que a força e a cura caiam direto nos ossos da sua coragem para sempre...

Clarissa Pinkola Estés – Ciranda de Mulheres Sábias

segunda-feira, 25 de março de 2013

Mandala da Lua Nova 2013



O Círculo do Feminino Sagrado tem como objetivo nutrir os valores femininos e despertar a memória dos valores essenciais para a manutenção de uma vida em conexão com o sagrado, com o fluxo do coração.  Iniciamos o Círculo com rituais, canto, meditação – seguidos de uma seqüência de posturas e exercícios respiratórios para desintoxicação do corpo e da mente. A intenção é levar as participantes a vivenciarem um processo de transformação que ativa a intuição feminina e sabedoria. Ao final expressamos nossa criatividade – Arteterapia e compartilhamos nossas experiências.

Jean Shinoda Bolen diz "... quando um Círculo de mulheres está centrado, ele forma uma roda ou uma mandala invisível". Assim cada mulher é ela mesma e também um aspecto de todas as outras mulheres presentes, o Círculo é um lugar seguro para o auto-estudo, para falar a verdade sobre sentimentos, percepções e experiências - o compartilhar consigo mesma e com as outras em comum-unidade.

São 7 encontros no ano - de abril a outubro - sábados de Lua Nova, 10/04, 11/05, 08/06, 13/07, 10/08, 07/09 e 05/10 - de 10h30 às 13h, no Espaço Akasha, Humaitá.

Mariana Soares, facilitadora deste círculo, é: Pós-graduada em Arteterapia, Terapeuta de Alinhamento Energético, Comunicóloga, Professora de Yoga (praticante há 17 anos), Terapeuta Floral, Massoterapeuta, Constelação Familiar Sistêmica em formação (2013), Terapeuta Reiki, estudou Ayurveda com Lissa Coffey, é mãe de 2 filhos, Escritora e amante da natureza.

Investimento: 6 parcelas de 120 reais. Apenas 10 vagas!!!

Mais informações através do e-mail yogamariana@gmail.com ou agende uma entrevista com Mariana através do 8221-3933.

Namaste!

sexta-feira, 15 de março de 2013

PAUSA PARA FAZER AS ESCOLHAS



Quando encontramos uma bifurcação em nosso caminho, isso altera o caminhar. É como se na estrada da vida tivéssemos escolhas a fazer, seja na vida afetiva, no trabalho, na família, nas finanças, etc, e muitas vezes nos sentimos impulsionados a tomar uma decisão. Qualquer decisão pode afetar tudo a nossa volta, portanto, é fundamental fazer uma pausa, mesmo que isso signifique atrasar sua entrada em uma nova fase de crescimento, por exemplo. Eu como boa ariana aprendi muito com a pausa, a PACIÊNCIA, o tempo para deixar que as coisas se tornem mais claras dentro e fora de mim. Dominar os impulsos nem sempre é fácil, mas a maturidade nos leva a ter consciência dos pensamentos, emoções, atitudes, reações e só assim é possível mudar nossos PADRÕES (diria ancestrais).

Essa pausa pode ser uma respiração profunda e longa, um tempo para contemplar a natureza e sentir o que é preciso fazer, uns dias de auto-observação e planejamento de como seria se a decisão fosse tomada desta ou daquela maneira, entre outras possibilidades. O importante é saber que as escolhas que você está fazendo são as melhores que você pode fazer AGORA. E a sabedoria vem de dentro, do seu interior, do seu coração, por isso SENTIR muitas vezes é melhor do que pensar!!

É claro que o pensar vai ajudar na tomada de decisão. Ao silenciar as inquietações da mente, a ansiedade gerada pelas inseguranças e medos, sua inteligência e maturidade emocional poderá ajudá-la a ter calma e clareza sobre cada uma das alternativas antes de chegar a qualquer decisão.

Ou seja, quanto mais consciência colocamos em nossas decisões, mais acertivas elas se tornam. Nós não precisamos nos ​​preocupar com as escolhas que fizemos no passado, pois elas foram o melhor que podíamos ter feito, mas elas servem para redirecionarmos nossa "VISÃO", nos reposicionarmos com "CONSCIÊNCIA" no AGORA!

Invoque seu poder interior, sinta a decisão mais acertada, mas lembre-se, só em seu interior existe a verdadeira sabedoria. Com este entendimento, todas as suas escolhas serão alinhadas com a sua essência, o seu dharma, mesmo que não tenham o resultado esperado por você naquele momento.

Namaste!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Pele de Foca, Pele de Alma

"Pele de Foca Pele de Alma" é uma das belas histórias de resgate da mulher selvagem do livro de Clarissa Pinkola, Mulheres que Correm com os Lobos.

Houve um tempo, que passou para sempre e que irá logo estar de volta, em que um dia corre atrás do outro de céus brancos, neve branca... e todos os minúsculos pontinhos escuros ao longe são pessoas, cães, ou ursos.

Nesse lugar, nada viceja gratuitamente. Os ventos são fortes, e as pessoas se acostumaram a trazer consigo seus parkas, mamleks e botas, já de propósito. Nesse lugar, as palavras se congelam ao ar liv re, e frases inteiras precisam ser arrancadas dos lábios de quem fala e descongeladas junto ao fogo para que as pessoas possam ver o que foi dito. Nesse lugar, as pessoas vivem na basta cabeleira da velha Annuluk, a avó, a velha feiticeira que é a própria Terra. E foi nessa terra que vivia um homem... um homem tão solitário que, com o passar dos anos, as lágrimas haviam aberto fundos abismos no seu rosto.

Ele tentava sorrir e ser feliz. Ele caçava. Colocava armadilhas e dormia bem. No entanto, sentia falta de companhia. Às vezes, lá nos bancos de areia, no seu caiaque, quando uma foca se aproximava, ele se lembrava de antigas histórias sobre como as focas haviam um dia sido seres humanos e como o único remanescente daqueles tempos estava nos seus olhos, que eram capazes de retratar expressões, aquelas expressões sábias, selvagens e amorosas. Às vezes ele sentia nessas ocasiões uma solidão tão profunda que as lágrimas escorriam pelas fendas já tão gastas no seu rosto.

Uma noite ele caçou até depois de escurecer, mas sem conseguir nada. Quando a lua subiu no céu e as banquisas de gelo começaram a reluzir, ele chegou a uma enorme rocha malhada no mar e seu olhar aguçado pareceu distinguir movimentos extremamente graciosos sobre a velha rocha.

Ele remou lentamente e com os remos bem fundos para se aproximar, e lá no alto da rocha imponente dançava um pequeno grupo de mulheres, nuas como no primeiro dia em que se deitaram sobre o ventre da mãe. Ora, ele era um homem solitário, sem nenhum amigo humano a não ser na lembrança — e ele ficou ali olhando. As mulheres pareciam seres feitos de leite da lua, e sua pele cintilava com gotículas prateadas como as do salmão na primavera. Seus pés e mãos eram longos e graciosos.

Elas eram tão lindas que o homem ficou sentado, atordoado, no barco, e a água nele batia, levando-o cada vez mais para junto da rocha. Ele ouvia o riso magnífico das mulheres... pelo menos elas pareciam rir, ou seria a água que ria às margens da rocha? O homem estava confuso, por se sentir tão deslumbrado. Entretanto, dispersou-se a solidão que lhe pesava no peito como couro molhado e, quase sem pensar, como se fosse seu destino, ele saltou para a rocha e roubou uma das peles de foca ali jogadas. Ele se escondeu por trás de uma saliência rochosa e ocultou a pele de foca dentro do seu qutnquq, parka.

Logo, uma das mulheres gritou numa voz que era a mais linda que ele já ouvira... como as baleias chamando na madrugada... ou não, talvez fosse mais parecida com os lobinhos recém-nascidos caindo aos tombos na primavera... ou então, não, era algo melhor do que isso, mas não fazia diferença porque... o que as mulheres estavam fazendo agora?

Ora, elas estavam vestindo suas peles de foca, e uma a uma as mulheres-focas deslizavam para o mar, gritando e ganindo de felicidade. Com exceção de uma. A mais alta delas procurava por toda a parte a sua pele de foca, mas não a encontrava em lugar nenhum. O homem sentiu-se estimulado — pelo quê, ele não sabia. Ele saiu de trás da rocha, dirigindo um apelo a ela.

— Mulher... case-se... comigo. Sou um... homem... sozinho.
— Ah — respondeu ela. — Eu não posso me casar, porque sou de outra natureza, pertenço aos que vivem temeqvanek, lá embaixo.
— Case-se... comigo — insistiu o homem. — Em sete verões, prometo lhe devolver sua pele de foca, e você poderá ficar ou ir embora, como preferir.
A jovem mulher-foca ficou olhando muito tempo o rosto do homem com olhos que, se não fossem suas origens verdadeiras, pareciam humanos.
— Irei com você — disse ela, relutante. — Dentro de sete verões, tomaremos a decisão.

E assim, com o tempo, tiveram um filho a quem deram o nome de Ooruk. A criança era ágil e gorda. No inverno, a mãe contava a Ooruk histórias de seres que viviam no fundo do mar enquanto o pai esculpia um urso em pedra branca com uma longa faca. Quando a mãe levava o pequeno Ooruk para a cama, ela lhe mostrava pelo buraco da ventilação as nuvens e todas as suas formas. Só que, em vez de falar das formas do corvo, do urso e do lobo, ela contava histórias da vaca-marinha, da baleia, da foca e do salmão... pois eram essas as criaturas que ela conhecia.

No entanto, à medida que o tempo foi passando, sua pele começou a ressecar. A princípio, ela escamou e depois passou a rachar. A pele das suas pálpebras começou a descascar. O cabelo da sua cabeça, a cair no chão. Ela se tornou naluaq, do branco mais pálido. Suas formas arredondadas começaram a definhar. Ela procurava esconder seu caminhar claudicante. A cada dia seus olhos, sem que ela quisesse, iam ficando mais opacos. Ela passou a estender a mão para tatear porque sua vista estava escurecida. E as coisas iam dessa forma até uma noite em que o menino Ooruk despertou ouvindo gritos e se sentou ereto nas cobertas de pele. Ele ouviu um rugido de urso, que era seu pai repreendendo a mãe. Ouviu, também, um grito como o da prata que ressoa com uma pedra, que era sua mãe.

— Você escondeu minha pele de foca há sete longos anos, e agora está chegando o oitavo inverno. Quero que me seja devolvido aquilo de que sou feita — gritou a mulher-foca.

— E você, mulher — vociferou o marido. — Você me deixará se eu lhe der a pele.
— Não sei o que eu faria. Só sei que preciso daquilo a que pertenço.
— E você me deixaria sem mulher, e a seu filho, sem mãe. Você é má.
Com essas palavras, o marido afastou com violência a pele da porta e desapareceu noite adentro.
O menino adorava a mãe. Ele tinha medo de perdê-la e, por isso, chorou até dormir... só para ser acordado pelo vento. Um vento estranho... que parecia chamálo.
— Oooruk, Ooorukkkk.
Ele pulou da cama, tão apressado que vestiu o parka de cabeça para baixo e só puxou os mukluks até a metade. Ao ouvir seu nome chamado insistentemente, ele saiu correndo na noite estrelada.
— Ooooooorukkk.
O menino correu até o penhasco de onde se via a água e lá, bem longe no mar encapelado, estava uma foca prateada, imensa e peluda... Sua cabeça era enorme. Seus bigodes lhe caíam até o peito. Seus olhos eram de um amarelo forte.
— Ooooooorukkk.
O menino foi descendo o penhasco de qualquer jeito e bem junto à base tropeçou numa pedra, não, numa trouxa, que rolou de uma fenda na rocha. O cabelo do menino fustigava seu rosto como milhares de açoites de gelo.
— Ooooooorukkk.
O menino abriu a trouxa e a sacudiu: era a pele de foca da sua mãe. Ah, ele sentia seu perfume na pele inteira. E, enquanto mergulhava o rosto na pele de foca e respirava seu cheiro, a alma da mãe penetrava nele como um súbito vento de verão.
— Ah — exclamou ele com alegria e dor, e levou novamente a pele ao rosto. Mais uma vez, a alma da mãe passou pela dele. — Ah!!! — gritou ele de novo, porque estava sendo impregnado pelo amor infindo da mãe.
E a velha foca prateada ao longe mergulhou lentamente para debaixo d'água.
O menino escalou o penhasco, voltou correndo para casa com a pele de foca voando atrás dele e se jogou para dentro de casa. Sua mãe contemplou o menino e a pele e fechou os olhos, cheia de gratidão pelo fato de os dois estarem em segurança. Ela começou a vestir sua pele de foca.
— Ah, mãe, não! — gritou o menino. Ela apanhou o menino, ajeitou-o debaixo do braço e saiu correndo aos trambolhões na direção do mar revolto.
— Ai, mamãe, não me abandone! — implorava Ooruk. E logo dava para se ver que ela queria ficar com o filho, queria mesmo, mas alguma coisa a chamava, algo que era mais velho do que ele, mais velho do que ela, mais antigo que o próprio tempo.
— Ah, mamãe, não, não, não — choramingou a criança. Ela se voltou para ele com uma expressão de profundo amor nos olhos. Segurou o rosto do menino nas mãos e soprou para dentro dos pulmões do menino seu doce alento, uma vez, duas, três vezes. Depois, com o menino debaixo do braço como uma carga preciosa, ela mergulhou bem fundo no mar e cada vez mais fundo. A mulher-foca e seu filho não tinham dificuldade para respirar debaixo d'água.

Eles nadaram muito para o fundo até que entraram no abrigo subaquático das focas, onde todos os tipos de criaturas estavam jantando e cantando, dançando e conversando, e a enorme foca prateada que havia chamado Ooruk de dentro do mar da noite abraçou o menino e o chamou de neto.

— Como você está se saindo lá em cima, minha filha? — perguntou a grande foca prateada.

A mulher-foca afastou o olhar e respondeu. — Magoei um ser humano... um homem que deu tudo para que eu ficasse com ele. Mas não posso voltar para ele, porque, se o fizer, estarei me transformando em prisioneira.

— E o menino? — perguntou a velha foca. — Meu neto? — Ele estava tão orgulhoso que sua voz tremia.
— Ele tem de voltar, meu pai. Ele não pode ficar aqui. Ainda não chegou o seu tempo de ficar conosco. — Ela chorou. E juntos eles choraram.

E assim passaram-se alguns dias e noites, exatamente sete, período durante o qual voltou o brilho aos cabelos e aos olhos da mulher-foca. Ela adquiriu uma bela cor escura, sua visão se recuperou, seu corpo voltou às formas arredondadas, e ela nadava com agilidade. Chegou, porém, a hora de devolver o menino à terra. Nessa noite, o avô-foca e a bela mãe do menino nadaram com a criança entre eles. Vieram subindo, subindo de volta ao mundo da superfície. Ali eles depositaram Ooruk delicadamente no litoral pedregoso ao luar.

— Estou sempre com você — afiançou-lhe sua mãe. — Basta que você toque algum objeto que eu toquei, minhas varinhas de fogo, minha ulu, faca, minhas esculturas de pedra de focas e lontras, e eu soprarei nos seus pulmões um fôlego especial para que você cante suas canções.

A velha foca prateada e sua filha beijaram o menino muitas vezes. Afinal, elas se afastaram, saíram nadando mar adentro e, com um último olhar para o menino, desapareceram debaixo d'água. E Ooruk, como ainda não era a sua hora, ficou.

Com o passar do tempo, ele cresceu e se tornou um famoso tocador de tambor, cantor e inventor de histórias. Dizia-se que tudo isso decorria do fato de ele, quando menino, ter sobrevivido a ser carregado para o mar pelos enormes espíritos das focas. Agora, nas névoas cinzentas das manhãs, ele às vezes ainda pode ser visto, com seu caiaque atracado, ajoelhado numa certa rocha no mar, parecendo falar com uma certa foca fêmea que freqüentemente se aproxima da orla. Embora muitos tenham tentado caçá-la, sempre fracassaram. Ela é conhecida como Tanqigcaq, a brilhante, a sagrada, e dizem que, apesar de ser foca, seus olhos são capazes de retratar expressões, aquelas expressões sábias, selvagens e amorosas.